segunda-feira, outubro 15, 2007

Outubros

E o outono chegou..
O meu primeiro verão em terras canadenses acabou. Nesses meses de dias longos e sol à vontade nos mudamos, enfrentamos barras de família, chorei de saudades de casa, encontramos novos amigos, viajamos para o Norte e conheci a Gaspésie e muitas cidadezinhas quebequenses, fomos fazer um piquenique e atraímos ursos, saímos de havaianas pelas ruas como se estivéssemos no Brasil.
Mas de um dia para o outro o vento mudou, as folhas ficaram vermelhas nas arvores e começaram a cair e hoje à noite esta fazendo 1Cº. Estou me preparando para o meu primeiro Halloween ao norte do Equador.
Por aqui parece que as pessoas adoram decorar as casa, Natal é um luxo e um lixo – eu que não sou chegada em Natal acho um exagero e tudo muito kitch! Entretanto, as decorações de Halloween são mais criativas e mais divertidas, hoje passei por uma casa cheia de abóboras e caveiras, na outra mais adiante bruxas e espantalhos.
Mas, sempre volto aqui pra falar sobre os meus feelings de imigrante, longe de casa faz bem mais de uma semana...Bem, no dia 11 de outubro fazem seis meses que enviei meu pedido de imigração ao Governo do Canadá, e ainda não recebi meu documento de residente permanente, o que me permitira virar gente por aqui, ou seja: poder trabalhar, estudar, dirigir e sair do pais, entre outras coisas. Já recebi uma carta dizendo que fui aceita no Quebec, o que é quase todo o caminho andado e agora espero ansiosamente pelo OK do Federal.
Tenho consciência que estou aqui em uma situação privilegiada, com todas as condições, mas descobri que quando se deixa o seu País, famílias e amigos para trás, se perde uma parte da nossa identidade. No Brasil, eu tinha um feedback das pessoas que me conheciam, amigos, trabalhos , faculdade.Essas pessoas te vêem pelos teus valores, pela historia que tu construiu. No Brasil eu era a estudante de Artes, tradutora, garota pós-moderna cabeçuda que mora sozinha, descolada, que gosta de papos psicodélicos e intelectualoides, que gosta de ouvir Jazz e de ler livros, que gosta de encontrar os seus amigos e tomar cerveja gelada mesmo na segunda de noite.
Aqui eu sou “A” brasileira, mulher de um quebequense. Só. “A” brasileira porque na cidade onde moro sou a única.e a condição civil vem depois e acaba por ai. Aqui ninguém me conhece, não sabem quem eu sou, não sabem dos meus talentos e defeitos, perdi uma parte importante da minha identidade que é o meu reflexo nos olhos dos outros. A maneira como o mundo me percebia no Brasil era muito mais rica, e aqui se resume a minha nacionalidade. Outro dia um amigo do meu marido me dizia – Tu tem um temperamento forte, é porque tu é brasileira! NÃO!!!!! Eu tenho temperamento forte porque sou eu! Ou será que os cento e noventa milhões que nasceram no território do Brasil são iguais porque são brasileiros? Não, a gente sabe que não.
Imigrar é um grande desafio, muito maior do que a gente pode imaginar quando esta ai no Brasil sonhando com flocos de neve. Incontáveis são os momentos quando tudo que se quer é encontrar gente que te conhece, ver os lugares que a gente conhece, enfim se sentir de novo em casa. Mas, só tem um caminho, que é ir pra frente e construir minha identidade de novo por aqui, com muito trabalho e paciência, e morrendo de saudade de todos que ficaram a 30º Sul, em Porto Alegre.
Ai vão umas fotos das arvores outonais pra vocês