Depois de sempre me identifiquei muito mais como gaúcha do que como realmente Brasileira. A cultura do Sul é tão forte, e a minha falta de contato com a cultura do Norte e Nordeste tão grande ( fora alguns pedaços de musica e literatura aqui e ali), que o tamanho continental do Brasil se faz imperativo e a gente acaba ficando bairrista.
Mas a perspectiva de coisas muda muito quando trocamos de país, e de repente um sentimento de “brasilidade” se faz mais presente do que nunca...Já me aconteceu antes, passei seis meses longe da nossa terra tupiniquim - e tinha desejos de pão de queijo, pastel, farofa – sem falar na música brasileira, que começa a invadir a vida da gente “como uma onda”.
Bem, ontem eu estava pintando as paredes da minha nova casa, no meu “novo” pais e ouvindo Lenine...Meu marido ocupado destruindo o que restava do antigo teto da sala, e perguntei se ele gostava da música, ele respondeu que sim, gostava da batida. Mas, todas as referências que ele faz – Mestre Vitalino, ciranda, frevo, João Cabral, mamulengo, maracatu, Ariano Suassuna, sem falar em Nova Jerusalém! Todas essas referências em comum - minhas, do Lenine e de qualquer Brasileiro do Oiapoque ao Chuí, mas que levariam dias pra explicar ao meu maridão Quebequense, me fazem muito mais brasileira do que gaúcha. Acho que finalmente entendi.
...e aqui vai a letra pra vocês...
Leão do norte
(Lenine e Paulo César Pinheiro)
Sou o coração do folclore nordestino
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá
Sou o boneco do Mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba
Ao som da orquestra armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral
Sou mamulengo de São Bento do UnaVindo no baque solto de Maracatu
Eu sou um alto de Ariano Suassuna
No meio da Feira de Caruaru
Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta
Levando a flor da lira
Pra nova Jerusalém
Sou Luis Gonzaga
E eu sou mangue também
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte
Sou Macambira de Joaquim Cardos
Banda de Pifo no meio do Carnaval
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o Carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O homem da meia-noite puxando esse cordão
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão
Eu sou mameluco...